Publicado em: 24 de junho de 2022 15h06min / Atualizado em: 24 de junho de 2022 20h06min
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cefaleia, 95% das pessoas têm dor de cabeça pelo menos uma vez na vida. Desses, 70% das mulheres e 50% dos homens sofrem com o mal no mínimo uma vez ao mês. Por se tratar de uma doença que, por vezes, caracteriza-se enquanto crônica e impossibilita os indivíduos de realizarem atividades do dia a dia, é importante saber como ela surge, distinguir suas variações e entender as formas de tratamento.
Com o objetivo de explicar sobre a cefaleia, seus tipos, como tratar, como prevenir e trabalhar a promoção e prevenção da saúde dos servidores, a Diretoria de Atenção à Saúde do Servidor (DASS) promoveu uma live com o tema: “Cefaleia: o que você precisa saber?”. O evento on-line foi realizado no dia 23 de junho e contou com a participação da neurologista Ana Squeff para tratar do assunto. Ana realizou a sua residência em neurologia na UFFS – Campus Passo Fundo.
Confira abaixo a entrevista que realizamos com a neurologista sobre o tema:
UFFS - O que pode ocasionar o desenvolvimento da enxaqueca?
Ana Squeff - A enxaqueca é uma dor crônica e hereditária. Quem tem familiares com enxaqueca, tem esse gene e, por algum motivo, por algum gatilho ao longo da vida, a enxaqueca vem a acontecer. A dor de cabeça, nesse caso, a enxaqueca, geralmente é de um lado da cabeça e, muitas vezes, troca de lado. É uma dor de cabeça latejante, de instalação gradual, associada a náusea e vômito, e fono e fotofobia. Fonofobia significa que ela piora com barulho e fotofobia, que ela piora com a luz.
Existem gatilhos que podem levar a pessoa a ter a crise de enxaqueca. Alguns mais comuns são: alteração na rotina dessa pessoa, alteração do sono e da alimentação. Qualquer coisa que saia do habitual dessa pessoa em específico. O stress, a ansiedade. As vezes você tem mais de um tipo de dor de cabeça, por exemplo, uma dor de cabeça por tensão muscular que fica muito tempo ali, você não alivia aquelas contraturas musculares, fica mandando o estímulo e acaba sendo um gatilho para uma enxaqueca e, então, você tem duas dores de cabeça: uma dor de cabeça por tensão muscular, mais uma enxaqueca.
UFFS - Sempre que iniciar a dor, devo imediatamente tomar medicação para combater? Ou há alguma outra ação que pode ser tomada antes?
Ana - A enxaqueca é dividida entre a com aura e a sem aura. Enxaqueca com aura é aquela situação em que pacientes veem tipo mosquinhas na frente, perdem a visão. Às vezes, alguns tem afasia, ou seja, não lembram das palavras que querem dizer naquele momento, e isso pode ser um sinal de que você vai ter a dor logo em seguida. Ela dura geralmente 30 minutos. O ideal é que se tome medicação sempre no início da dor, mas quem tem aura tem que tomar na aura para abortar a crise de dor. Então a medicação bem no início é para que você não entre em crise de enxaqueca, que você aborte e controle essa crise.
UFFS- Qual a relação entre enxaqueca e sistema digestivo? Quando há algo de errado com o sistema digestivo (dor de estômago, excesso de acidez), "ativa" a enxaqueca?
Ana - No funcionamento da dor de cabeça, o cérebro manda o estômago ficar parado. Então se eu demoro para tomar um remédio, o estômago também vai demorar para absorver porque ele está parado e vai fazer com que a pessoa enjoe e ainda mantenha a dor de cabeça por um período maior porque o remédio não fez efeito. O pessoal tem o hábito de dizer que comeu algo que não fez bem e isso ocasionou a dor de cabeça. Possivelmente aconteceu o contrário. As pessoas às vezes não se dão conta, porque distraem o cérebro fazendo outras coisas, e acabam tendo dor de cabeça, enjoando depois, e associa à alimentação.
UFFS- Os alimentos podem desencadear o surgimento de uma enxaqueca? Existem alimentos que devem ser evitados nos períodos de crises de enxaqueca?
Ana - Dificilmente tem alimentos que interferem ou que são gatilhos para a dor de cabeça, na verdade isso é muito individual. Tem pessoas que tem problema com tipos de queijos ou bebidas. O tanino do vinho, por exemplo, é algo que muitas vezes desencadeia a dor de cabeça. Apesar de que o álcool é uma situação que pode desencadear crise de enxaqueca. Só que o que acontece é que como o paciente é um ser único, e eu tenho que avaliar esse paciente como um todo dentro do contexto dele, eu tenho que buscar saber quais são os gatilhos dele para que eu melhore as crises de enxaqueca. Eventualmente, mesmo tratando os gatilhos, mesmo organizando as questões de vida dessa pessoa, crises vão acontecer em algum momento, porque a gente vive estressado.
UFFS- A prática de atividade física, quando o paciente já está com a dor de cabeça, tende a ser benéfica ou prejudicial para o quadro de dor?
Ana - O Brasil é o país da ansiedade, é o país que mais se toma Rivotril e que mais tem pessoas ansiosas, há estudos que mostram. O nosso estilo de vida é determinante também para o número de crises, para como eu vou melhorar essa situação, porque o exercício físico é um fator que melhora muito a dor de cabeça. Você libera endorfina, você libera o stress, você dorme melhor e come melhor. Então o exercício físico é fundamental para quem tem as dores no geral e, para a enxaqueca, faz parte do tratamento o exercício físico.
UFFS - Café intensifica a dor: mito ou verdade?
Ana - Estudos mostram que a cafeína pode auxiliar na crise de dor, porque na hora da dor a enxaqueca faz uma vasodilatação, ou seja, ela aumenta os vasos sanguíneos cerebrais e faz um processo inflamatório ali. A cafeína vai agir estimulando o contrário, a vasoconstrição, que ele fique mais contraído e reduza essa situação.
UFFS - Para mulheres, há alguma relação com ciclo menstrual e dores de cabeça/enxaqueca?
Ana -Existe um tipo de enxaqueca que é a menstrual. Tem muitas pessoas que a menstruação é algo que influencia diretamente na sua crise, pois algumas mulheres têm a enxaqueca pontualmente na menstruação, a gente chama isso de enxaqueca menstrual. Então aí eu vou ter que avaliar e conversar com essa paciente para que a gente faça um tratamento durante esse período ou mesmo faça o uso do anticoncepcional de forma contínua, para que ela não precise passar por esse período. Isso é muito individual, tem mulheres que para elas é importante ver a menstruação, apesar de usar anticoncepcional e aquele sangue ser não tão real, porque a gente manipula o ciclo com o anticoncepcional, deixando os hormônios em um nível mais constante. Tem tratamentos pontuais para abortar a crise de dor, às vezes começam os tratamentos antes do período menstrual, quando o ciclo é regular. A gente vai estruturar o plano terapêutico dessa paciente, se ela tem dor antes de menstruar e melhora quando ela menstrua; se ela tem dor durante a menstruação; se ela fica com dor antes, durante e depois por uns dois dias, então isso é muito relativo.
UFFS - O uso de acupuntura para o tratamento traz benefícios?
A acupuntura é um tratamento adjuvante muito bom, que pode agir na ansiedade, agir diretamente na enxaqueca, mas é um tratamento complementar, porque a ideia da acupuntura é fazer uma neuromodelação, e não é algo que é instantâneo, é algo que com um acompanhamento contínuo vai se ter um resultado, não são com poucas sessões.
*Texto Luana Poletto - Estagiária sob supervisão de Flávia R. Durgante
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