Publicado em: 02 de maio de 2017 15h05min / Atualizado em: 17 de maio de 2017 14h05min
A professora da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Chapecó, Zuleide Maria Ignácio, publicou neste ano, um capítulo sobre um modelo animal de estresse e negligência na infância e depressão na vida adulta em uma enciclopédia internacional de neurociências da editora Elsevier.
O capítulo intitulado Maternal Deprivation foi publicado pela professora e outros grandes neurocientistas nacionais e internacionais e trata de uma pesquisa realizada sobre os mecanismos biológicos e comportamentais envolvidos ao longo da vida de animais privados maternalmente em tempo parcial durante os primeiros 10 a 15 dias de vida.
Segundo Zuleide, o modelo animal de privação materna consiste em separar os filhotes (ratos) de suas mães, a partir do segundo dia de nascimento, por um tempo de 3 horas diárias, durante 10 dias. A cada dia, no mesmo período, as ninhadas de cada rata são separadas de suas mães durante três horas. Ao final de 3 horas, as mães são colocadas de volta juntamente com suas respectivas ninhadas. O procedimento, durante a pesquisa, demonstrou que esse protocolo de privação maternal induz comportamentos depressivos e alterações neurobiológicas relacionadas com o transtorno.
A pesquisadora explicou que em um dos protocolos do seu Doutorado e em várias outras pesquisas realizadas no Laboratório de Neurociências da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), a equipe que estuda o transtorno depressivo maior observou que animais expostos a esse modelo sofrem diversas alterações biológicas, dentre as quais estão: reconfiguração de função genética; alterações no balanço oxidativo, alterações neuroimunes e inflamatórias, alterações neuro-hormonais; prejuízos na plasticidade neuronal, com perdas de conexões sinápticas e de massa cerebral em regiões relacionadas com o humor; alterações em fatores de crescimento e nos sistemas de transmissão neuronal.
DEPRESSÃO
Para Zuleide, o modelo é importante porque induz nos animais alterações comportamentais e biológicas que lembram o que ocorre em pessoas que sofreram estresse na infância. “O estresse na infância, principalmente por negligência de cuidados, abandono, violência física e emocional, é um dos grandes vilões no desencadeamento de depressão ao longo da vida e um dos grandes vilões já conhecidos envolvidos na severidade e na falta de resposta aos tratamentos psicoterápicos e farmacológicos clássicos, levando à depressão resistente a tratamentos”, afirmou.
Em modelos animais é possível analisar regiões cerebrais específicas relacionadas com o transtorno, bem como alguns mecanismos moleculares e genéticos, para os quais ainda não existem protocolos que possam ser aplicados para estudo diretamente na espécie humana. Na privação maternal, assim como em outros modelos animais, é possível fazer a investigação pré-clínica de drogas, bem como outros procedimentos com potencial terapêutico para o transtorno depressivo maior e outros transtornos psiquiátricos e neurológicos.
De acordo com Zuleide, a depressão na vida adulta, além de ser altamente incapacitante, pode levar ao suicídio, e a depressão resultante do estresse na infância também pode levar a sintomas mais severos e predispor ao suicídio. “Embora em modelos animais, comportamentos suicidas sejam mais difíceis de detectar, algumas alterações comportamentais e biológicas já observadas em vítimas ou indivíduos com potenciais para o suicídio podem ser observadas nos animais. Além disso, a investigação pré-clínica de drogas com potenciais terapêuticos mais efetivos para a depressão severa e resistente a tratamentos farmacológicos tem como um dos objetivos mais importantes a redução de suicídios, além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, ressaltou.
NEGLIGÊNCIA NA INFÂNCIA
Questionada sobre a relação entre a negligência na infância e a depressão, a pesquisadora explicou que a negligência na infância é um dos fatores importantes, os quais predispõem à depressão ao longo da vida. “No trabalho envolvido na minha tese, a privação maternal induziu alteração em mecanismos epigenéticos no hipocampo e cortex frontal, regiões cerebrais que estão envolvidas com comportamentos depressivos em humanos e tipo depressivos em animais de laboratório”, afirmou.
Para ela, também há a interação entre fatores genéticos e o ambiente psicossocial que podem levar à depressão. “Um dos fatores psicossociais mais importantes é o ambiente de cuidados durante o início da vida. Estudos com diversas populações humanas já demonstraram que ambientes psicossociais inóspitos são altamente estressores e predisponentes à depressão durante a infância, adolescência ou na vida adulta”, finalizou.
OUTRAS PESQUISAS
A professora ainda afirmou que o modelo de privação maternal, assim como outros modelos de estresse e depressão, será objeto de estudo no Laboratório de Fisiologia, Farmacologia e Psicopatologia da UFFS em cooperação com o Laboratório de Neurociências da UNESC, com o objetivo de continuar as investigações acerca dos mecanismos biológicos e alvos com potenciais terapêuticos na depressão.
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