Um olhar tímido. Pouca vontade de participar da atividade. Lábios cerrados que sequer abriam para responder algo: ele só respondia com o movimento de “não” com a cabeça. Uma latinha bem tampada e com algo dentro que produzia barulho foi o suficiente para transformar o semblante de Erick da Silva Fernandes, nove anos.

Entrar no ritmo o fez sorrir. Tocar um instrumento, mesmo que improvisado, o fez mostrar os dentinhos, ainda separados e em crescimento. Perceber que acompanhava uma bateria, ou melhor, que fazia parte de uma bateria, trouxe o brilho no olhar do menino.

Essa é uma das descrições de belas cenas vivenciadas na tarde de sexta-feira (18) na Escola Parque Cidadã (EPC) Leonel de Moura Brizola. A bateria Trombatuque, formada na Atlética 18 de maio, do curso de Medicina da UFFS – Campus Chapecó, levou música e alegria para as crianças.

Teve samba, funk e Olodum. Teve bracinhos para o alto, pezinhos pulando, mãozinhas aplaudindo e sorrisos – muitos deles. Teve também mãos tapando ouvidos, já que em função da chuva, a atividade precisou ser feita dentro de um auditório. Mas esse contratempo não foi suficiente para estragar a tarde de batuques.

Os jovens graduandos, justamente no Dia do Médico, mostraram que Medicina também se faz com empatia. “Nessas ações, desenvolvemos a empatia, a comunicação verbal com a comunidade. São duas coisas que precisaremos para o bom desenvolvimento da nossa profissão”, ressalta a diretora da bateria, Jullye Gavioli.

O nome da UFFS – Campus Chapecó também foi levado com muito carinho pelos graduandos e pelo professor responsável pelo Projeto de Cultura Trombatuque, professor Paulo Henrique Guerra. Embora faltem dez, doze anos para as crianças acabarem o Ensino Médio, os estudantes e o professor explicaram que a Instituição é para todos os interessados. Comentaram sobre as carreiras que podem seguir estudando na UFFS e convidaram as crianças a visitarem a estrutura da universidade.

Essa não foi a primeira vez de muitos dos graduandos em Medicina da UFFS – Campus Chapecó na escola. Eles fizeram uma palestra sobre a sarna para as crianças. E a ação fez sucesso. No reencontro, vários pequenos lembraram dos graduando – inclusive chamando-os pelo nome.

E, embora possam parecer distantes os assuntos música e saúde, o bem-estar demonstrado pelas crianças com a atividade comprovou a relação. “No curso falamos muito sobre a promoção da saúde: cuidar antes de ter a doença”, destacou Bruna Vale Leal, secretária da ONG Simplificação, parceira na ação.

O Projeto de Cultura Tombatuque tem como um dos objetivos proporcionar momentos de cultura com a comunidade. A partir de conversas, o grupo chegou à parceria com a Atlética, a ONG Simplificação e com uma escola particular de Chapecó. Também levantou algumas demandas da EPC. Assim, o grupo arrecadou e presenteou a escola com brinquedos.

“Sinto-me realizado duplamente: como professor responsável pela atividade e pela entrada nas escolas, com a disciplina de Saúde Coletiva e outras ações desenvolvidas na Universidade. Temos, a partir de agora, possibilidades de fazer atividades do mesmo porte em outras escolas do município”, finalizou o professor.

Para a vice-gestora do Ensino Fundamental na escola, professora Elizandra Benetti, as crianças, naturalmente, são curiosas. “Elas gostam muito de tudo o que é diferente e vem para a escola”, disse a gestora. Ela também comenta o quanto a música é importante para as crianças: “a música proporciona um campo abrangente de sensações e emoções para as crianças. Esses momentos que vêm à escola são muito relevantes. Nunca tínhamos recebido uma bateria na escola. Quando chegarem em casa, terão muito a contar aos pais”.